sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

(Demonstrar a falácia do IUC para bicicletas) É desprestigiante, disse ele.

Os comentários nas redes sociais nunca cessam de nos surpreender. No caso da promoção da utilização da bicicleta como meio de transporte e da melhoria das condições subjacentes, ocorre normalmente uma inflamação de opiniões superior à das notícias sobre aumentos de impostos. A desinformação e o achincalhamento são aqui normais.

É compreensível. Mandar um petardo a fingir de argumento é fácil, rápido e tem um potencial de estrago razoável, especialmente se repetido e disseminado. Lança a confusão, a dúvida e para rebater é sempre preciso tempo e esforço para desmontar o que em bom português não passa de Lógica da Batata, que tanta escola faz neste canto ibérico.

Mas descubro que é ainda mais grave o problema e que, afinal, não basta responder à desinformação como tentei no post anterior. Não, demonstrado o ridículo da acusação do não pagamento de Imposto Único de Circulação por parte das bicicletas, perdão, velocípedes, vem o Rui Gomes na caixa de comentários queixar-se que afinal este é um não-assunto:


Curioso mas nunca vi ninguém em fóruns de rsocial, pelo menos que merecesse algum credito, a tecer qualquer comentário, depreciativo pelo fato das bicicletas estarem isentas ao IUC. portanto é um tema que não é tema... e pelos vistos também só serve para alimentar e até em desprestigio levantar essa questão no sense a quem nunca tinha ouvido comentar."

Portanto, está aqui o Rui Gomes a dizer que eu perdi o meu tempo e prestígio a ilustrar o ridículo do IUC para bicicletas, perdão, velocípedes, pois nunca ninguém tinha tecido qualquer comentário nesse sentido nas redes sociais.

Desconheço os fóruns de redes sociais frequentadas pelo Rui Gomes, se se trata do Clube Golf Portugal, do Canaricultura Tuga ou o Café Central, no Penteado:



Matraquilhos! Quem não gosta de matraquilhos? 
E fica no Penteado, pelo que _______________ - espaço para o vossa piada preferida, deixo à liberdade de cada um


Mas naquilo que entendo por "fóruns de redes sociais", deixo-vos alguns exemplos:








Nos comentários a uma notícia do Jornal de Notícias




Comentários a um artigo do jornal Público



Este comentário abaixo, na mesma notícia do Público, é um dos mais preciosos que já li. Veja-se o esforço que o seu autor faz para justificar que as bicicletas têm impacto ambiental elevado: Circulando mais devagar fazem com que os automóveis tenham que travar e portanto estes últimos perdem velocidade, tendo que voltar a acelerar para recuperar essa velocidade. Com isso produzem mais CO2, por culpa das bicicletas. É de génio!


"Por fim, e pegando nesta citação: "O IUC serve para mitigar os custos dos impactos ambientais e sociais que o tráfego rodoviário acarreta e não apenas para a construção e manutenção das infraestruturas viárias(...)". Quero insistir no exemplo das bicicletas a circular na Marginal, onde os carros circulam a 70Km/h (ou mais, já fora da legalidade) e do embaraço ao trânsito que os vários ciclistas que a povoam (quase todos em âmbito desportivo, e quase nunca na óptica da mobilidade) tendem a causar. Há um grande impacto social nos automobilistas e nas situações perigosas que originam, e há um maior impacto ambiental devido à quantidade de carros que têm que travar e voltar a acelerar depois de os ultrapassar."


Seguindo esta lógica, deveríamos estar todos a lutar pela abolição das passadeiras. O pára/arranca do automóvel por causa dos atravessamentos de peões provoca aumento da poluição. Estes deviam atravessar apenas quando não tal não obrigasse um automóvel a travar. 

Aliás, há uma grande desfaçatez em quem quer andar a pé, com a mania que é mais "verde", pois reivindicam o espaço público com passeios e praças que podiam muito bem ser reservadas ao estacionamento automóvel, facilitando-o. Já viram quanta poluição é causada por automobilistas a andar às voltas à procura de estacionamento, por o espaço ter sido reservado para peões (que mais não fazem do que passear, veja-se)? Eu pensava que o excesso de poluição na Avenida da Liberdade que levou à instauração de um processo europeu era causado pelo excesso de tráfego, mas agora percebo que é pelo excesso de passadeiras. Fico muito grato por terem trazido luz e razão a um problema desta dimensão.


E chega, que já me dói o cérebro.


Mas atenção que o comentador Rui Gomes previu que eu pudesse achar umas dezenas de comentários a comprovar que o não pagamento de IUC é uma das acusações feitas a quem apenas pretende andar numa bicicleta, perdão, velocípede. E logo acrescentou que nunca viu "ninguém... pelo menos que merecesse algum crédito" a fazer tal defesa. Portanto, para a defesa do IUC ser relevante, não bastaria que a sua imposição fosse proclamada por dezenas de pessoas que se deram ao trabalho de o escrever nos ditos fóruns, tinha de ser por gente "com crédito".

É evidente que, se eu alinhasse na mesma ilógica, a resposta natural ao comentário, seria a de que eu não sei quem o Rui Gomes é, e portanto não me merece qualquer crédito pelo que bem pode falar e comentar à vontade. Mas, nestes termos, responder-lhe seria "desprestigiante" dentro da lógica que proclama, e portanto fiquei calado. 

Agradeço o cuidado que o Rui Gomes tem com o meu prestígio, alertando-me para o "no sense" do meu artigo, mas na verdade eu não tenho prestígio algum. Ou tenho? É que o Rui Gomes comentou, dando afinal relevância ao que escrevi. Estou baralhado, é melhor parar por aqui.


3 comentários:

  1. ARGH...A MINHA CABEÇA VAI REBENTAR!!!!

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  2. Andam verdadeiros filósofos por essas redes sociais fora ! Mas sabem que mais ? Estou convencida! Acabou-se a bicicleta para o emprego! Não quero ter na consciência o peso do "impacto social" que causo aos automobilistas que, coitados, têm de travar ... E digo mais, vou tornar-me numa verdadeira activista e não paro em lado nenhum: sinais vermelhos, passadeiras, criancinhas a correr atrás de bolas na estrada, animais ... NADA! Vai ser sempre a andar ... tudo em nome da redução de emissão de CO2 !

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  3. Ando sobretudo de carro e há uns bons anos que não pego numa bicicleta, mas há um argumento que choca nos comentários postados, que se prende com o dano na chapa dos popós se um ciclista (esses azelhas) me baterem na viatura. Claro que o dito não cai imediatamente no meio do chão e foge logo a acelerar a tal velocidade que nem o mais potente carro desportivo o alcança. Brilhante. Lamentavelmente é verdade, o ciclista é um verdadeiro perigo para a chapa, infelizmente a inversão das prioridades é de tal ordem que vale mais um bocado de lata do que a vida humana. Quem já levou uma daquelas razias de ir parar à valeta saberá do que falo.

    PS: vim parar aqui fruto de uma belissima noticia da rádio elvas confirmada pelo site Tuga Car Lovers da tal conversa do imposto.

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