quarta-feira, 13 de março de 2013

Andar de bicicleta e NÃO usar capacete

Este é um tema alvo de muitos debates, como uma rápida pesquisa na internet pode mostrar.

Update: Aqui, um óptimo exemplo recente.

Mas há imagens que valem por um longo texto:


Também é fácil perceber que há muitas pessoas a partir cabeças, porque tropeçaram a descer as escadas. Deviam pôr um capacete antes de o fazer?

Acima de tudo, estou do lado dos Pró-escolha: Usa capacete quem assim o entender. Obrigatório é que não.

21 comentários:

  1. Quantos carros circulam por dia nas estradas onde foram feitas as estatisticas? Quantas vezes mais é esse número superior ao das bicicletas? Algumas estatísticas não esclarecem nada, mas servem de excelente arma de apoio de argumentos difíceis de compreender.

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  2. Não se trata de analisar estatísticas, mas racionalizar a questão da obrigatoriedade ou não de uso do capacete. Também há quem as use apresentando percentagens de benefício no seu uso em caso de acidente. O que pretendo é alertar que o simples facto de se poder partir a cabeça ao andar de bicicleta não conduz à necessidade de se usar obrigatoriamente um capacete. Há muitas outras actividades onde esse risco também existe e nem por isso se advoga a sua utilização.

    Eu não o uso na cidade, mas não saio sem ele para a prática do BTT, onde se anda em trilhos de 1m de largura, com piso imprevisível, a 50km/h, entre árvores. Não é bem a mesma coisa.

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  3. Os automobilistas também podem argumentar o mesmo em relação ao uso do cinto de segurança, não? Imagina que um preguiçoso quer usar o carro e ir ao fundo da rua comprar pão. Quer ele queira quer não, é obrigatório para ele o uso do cinto. Não vejo este tipo de reclamação entre automobilistas. Eles assumem que se não usarem podem ser punidos e não acredito que haja algum que deixe de usar o carro por causa dessa obrigatoriedade. Right?

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  4. Além disso, os automóveis, para além dos cintos que não eram obrigatórios e passaram a ser, incluem agora, ao contrário de há umas décadas atrás, muitos mais sistemas de segurança, mesmo não sendo obrigatórios. Há uma evolução natural na atitude dos automobilistas e na oferta tecnológica dos fabricantes. Porque é que os ciclistas agora têm de ser os teimosos arrogantes? Estamos a fazer o mesmo que os automobilistas faziam em relação aos cintos, ao teor de álcool no sangue, aos limites de velocidades...etc, etc.

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  5. Podem comparar, mas não estão a comparar a mesma coisa. O cinto de segurança é um dispositivo de segurança incorporado no carro e não na pessoa, como é um capacete. As pessoas quando saem do carro não levam o cinto consigo. O cinto não desarranja a roupa, como um capacete desarranja o cabelo. E, é um facto, muitas raparigas e alguns homens certamente se recusariam a andar de bicicleta se tivessem que usar um capacete, por esse motivo (ou simplesmente porque acham muito inestético). Menos pessoas a andar de bicicleta faz com que seja no geral menos seguro para os que continuam a utilizá-la e faz diminuir os benefícios adjacentes relativos a poluição, ruído, saúde e gastos de importações (porque passam a usar um transporte motorizado). Isto não é uma invenção. São estas algumas das razões-base que levam a que nos países nórdicos se mantenha a liberdade de uso do capacete - o risco de diminuição no número de ciclistas. E eles andam de bicicleta em percentagens muito superiores às nossas, pelo que têm uma base factual de estudo muito mais alargada. E ainda assim não encontram justificação para tornar o uso do capacete obrigatório.

    Para mais elementos, dois artigos (mas há muito mais pela internet, é só procurar. Um estudo Norueguês: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1369847812000587

    E um artigo do New York Times: http://www.nytimes.com/2012/09/30/sunday-review/to-encourage-biking-cities-forget-about-helmets.html?pagewanted=all&_r=0

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  6. O aumento dos dispositivos de segurança nos automóveis está relacionado com o facto de eles serem potencialmente muito inseguros, ao contrário da impressão que dão a quem vai dentro deles. É devido aos automóveis que morreram já milhares de pessoas em Portugal e milhões no mundo. Não conheço um único caso de um ciclista que tenha morto outra pessoa enquanto se transportava na cidade. Mesmo que haja dez casos, são dez contra milhares ao longo destes últimos 30 anos.

    Comparar um veículo de pelo menos uma tonelada que anda, mesmo nas cidades (eu vejo todos os dias) a 80Km/h (e muitas vezes mais) a uma bicicleta com +-15kg que só a descer passa dos 30km/h é como comparar o leão ao rato e agir sobre os dois com a mesma cautela, porque ambos podem morder.

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  7. Os instrumentos são diferentes mas a atitude é a mesma. Quem define que o cinto não é desconfortável, mas o capacete sim? O cinto não desarranja a roupa? Claro que dessaranja. Se assim fosse não colocavamos a gravata por cima do cinto. E no verão o cinto nalgumas pessoas provoca um rastozinho de suor bem inestético.

    Eu quando acabo de pedalar também não levo o capacete comigo. Ou fica na bicicleta ou vai na mochila. E quando o levo comigo não é mais incómodo que um telemóvel grande ou um livro.

    Os capacetes não servem para evitar mortes das pessoas que levam com bicicletas em cima, mas sim para evitar lesões graves nos ciclistas que têm azares. Do mesmo modo que o cinto de segurança e airbags têm como objectivo preservar a saúde do automobilista e não de terceiros. E neste caso, os ciclistas são muitíssimas vezes mais vulneráveis porque não têm uma carcaça de aço a proteger. E numa sociedade onde as bicicletas terão de usar o mesmo espaço dos carros este ponto tem a sua relevância.

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  8. Que diríamos nós de uma pessoa que recusasse conduzir um carro se tivesse de usar cinto? É uma atitude estranha para nós agora. Há 30 ou 40 anos achavamos normal...

    E uma pessoa que deixa de andar de bicicleta por ter de usar capacete ou tem um amor fraquinho pela bicla ou tem um postura bem irracional perante este.

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  9. Vamos comparar então:

    Que me acontece se eu for o condutor e:

    Bater com um carro a 50 ou 60 km/h sendo este um topo de gama com 11 airbags, zonas de deformação programada, cinto de segurança e coluna de direção retráctil, ou

    Ir a 30-35 km/h em cima da bicla numa estrada de paralelo molhado com carros nos dois sentidos da via, e, como é habitual nas estradas e ruas portuguesas, com muito pouco espaço entre veículos, zero espaço de berma, ou com a berma cheia de lixo e sem capacete.

    Em qual dos casos tenho maior probabilidade de sair maltratado? Eu não tenho tanta certeza quem é o "leão" ou o "rato" nesta situação.

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    1. Essa bicla deve ir numa super via rápida ou então o condutor deve ser ciclista profissional. E com piso molhado, só se fosse uma pessoa que não tem a mínima noção do que é andar de bicla em piso molhado.
      Que tal aplicar um bom bocado de bom senso? Ficam todos a ganhar ciclistas e condutores.

      Abraços

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  10. Comparar um veículo de pelo menos uma tonelada que anda, mesmo nas cidades (eu vejo todos os dias) a 80Km/h (e muitas vezes mais) a uma bicicleta com +-15kg que só a descer passa dos 30km/h é como comparar o leão ao rato e agir sobre os dois com a mesma cautela, porque ambos podem morder.

    Estamos a comparar os efeitos dos veículos nos outros ou os efeitos do modo como se utiliza os veículos na própria pessoa que os usa? Acho que estás a confundir as situações. Vê o exemplo que eu dei acima.

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  11. O que os estudos mostram é que se se tornar obrigatório o uso de capacete por parte dos ciclistas, a quantidade destes nas ruas desce assinalavelmente. Aqui por ciclistas, estou a pensar nos que se deslocam usando a bicicleta como transporte e não os que a usam em lazer. Com menos ciclistas, o ambiente geral é de muito menos segurança para os que resistem, porque a velocidade média automóvel aumenta e os automobilistas deixam de ter a expectativa de cruzar com um ciclista. Por outro lado essa diminuição tem um impacto assinalável em externalidades económicas e de saúde, como já falei acima. Se a ausência de obrigatoriedade de uso de capacete determinar que centenas ou milhares de pessoas passem a usar a bicicleta, o impacto positivo no país é muito maior do que menos pessoas a usar e pretensamente mais seguras naqueles casos em que numa queda o capacete efectivamente os protegeu.

    Além disso, tendo em conta a expansão dos sistemas de bike-sharing, não faz sentido obrigar um ciclista de oportunidade eventual a usar um capacete que ele não tem. Ou então tinham todos que andar sempre com o capacete, só para o caso. A bicicleta é um meio que é atraente pela simplicidade e liberdade de uso e um capacete vem complicar as coisas para muitas pessoas. E o que se quer é mais pessoas em bicicletas. O capacete é uma questão mais de liberdade individual, das poucas que ainda temos, sem ser o estado a dizer-me como me devo comportar. Qualquer dia, também obrigamos as crianças a vestir coletes e capacetes quando vão brincar, dada a proeminência de cabeças partidas e outros acidentes em tenra idade.

    Estamos a comparar os efeitos dos veículos na própria pessoa que os usa e também nas outras pessoas. Imaginemos que durante um ano ninguém andava de carro e apenas de bicicleta, sem capacete. Qual seria a mortalidade nas estradas nesse ano? Estou convicto seriam muito longe das quase mil que temos por ano. Desde logo porque a percepção do espaço envolvente muda na bicicleta e não sei qual seria o louco que desceria a 30km/h numa rua de calçada molhada. Eu não, certamente. E o facto de o capacete ter alguma possibilidade de fazer a diferença nessa situação é apenas hipotética e marginal. A maior segurança numa bicicleta depende muito mais da utilização de luzes e um comportamento assertivo, atento e preventivo do que da utilização de capacete que induz uma falsa sensação de segurança.

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  12. Este comentário foi removido pelo autor.

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  13. Não preciso de ir muito longe para colocar em causa a tua premissa principal, ou seja: que estudos? Estes?

    The effects of provincial bicycle helmet legislation on helmet use and bicycle ridership in Canada}
    Publication Type Journal Article
    Year of Publication 2010
    Authors Dennis, J., Potter, B., Ramsay, T., & Zarychanski, R.
    Journal Injury Prevention

    Background Bicycle helmet legislation has been variably implemented in six of 10 Canadian provinces. In the time between the 2000–01 and 2007 cycles, two provinces (Prince Edward Island (PEI) and Alberta) implemented helmet legislation. Results Helmets were reportedly worn by 73.2% (95% CI 69.3% to 77.0%) of respondents in Nova Scotia, where legislation applies to all ages, by 40.6% (95% CI 39.2% to 42.0%) of respondents in Ontario, where legislation applies to those less than 18 years of age, and by 26.9% (95% CI 23.9% to 29.9%) of respondents in Saskatchewan, where no legislation exists. Though legislation applied to youth in both Ontario and Nova Scotia, helmet use was lower among youth in Ontario than among youth in Nova Scotia (46.7% (95% CI 44.1% to 49.4%) vs 77.5% (95% CI 70.9% to 84.1%)). Following the implementation of legislation in PEI and Alberta, recreational and commuting bicycle use remained unchanged among youth and adults. Conclusions Canadian youth and adults are significantly more likely to wear helmets as the comprehensiveness of helmet legislation increases. Helmet legislation is not associated with changes in ridership.

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  14. Mandatory bicycle helmet use following a decade of helmet promotion in Victoria, Australia - An evaluation
    Cameron, M.H., Vulcan, A.P., Finch, C.F., Newstead, S.V.
    1994
    Accident Analysis and Prevention 26 (3) , pp. 325-337
    92



    On July 1, 1990, a law requiring wearing of an approved safety helmet by all bicyclists (unless exempted) came into effect in Victoria, Australia. Some of the more important steps that paved the way for this important initiative (believed to be the first statewide legislation of its type in the world) are described, and the initiative's effects are analysed. There was an immediate increase in average helmet-wearing rates from 31% in March 1990 to 75% in March 1991, although teenagers continued to show lower rates than younger children and adults. The number of insurance claims from bicyclists killed or admitted to hospital after sustaining a head injury decreased by 48% and 70% in the first and second years after the law, respectively. Analysis of the injury data also showed a 23% and 28% reduction in the number of bicyclists killed or admitted to hospital who did not sustain head injuries in the first and second post-law years, respectively. For Melbourne, where regular annual surveys of helmet wearing have been conducted, it was possible to fit a logistic regression model that related the reduction in head injuries to increased helmet wearing. Surveys in Melbourne also indicated a 36% reduction in bicycle use by children during the first year of the law and an estimated increase in adult use of 44%.

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  15. Como vês, a história dos estudos dizerem que o uso do capacete diminui o número de utlizadores está longe de ser consensual (podia ter colocado mais referências a artigos mas não quero ser chato).

    Já quanto ao facto de o uso de capacete diminuir o número de lesões graves em ciclistas já não me parece que deixe lugar para dúvidas. Se quiseres, coloco dezenas de artigos (em jornais científicos a sério, não em blogues que citam outros blogues que depois citam outra fonte manhosa ad infinitum...) aqui, mas não me parece que seja necessário, somos os dois minimamente inteligentes, não é?

    Não, eu pelo menos estou apenas a falar dos efeitos do uso do capacete no próprio utilizador e da consequente justificação da sua obrigatoriedade. Se quiseres que eu fale disso ok, mas não é disso que EU estou a falar agora ;).

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  16. Isto é como andar de mota mas sem um casaco próprio, luvas e botas...

    Se caíres FAZ TODA A diferença ... mesmo uma queda pequena..

    Acho que deveria ser obrigatório pois nem todas as pessoas têm juízo para saberem o que é melhor para elas...



    Eu ando SEMPRE de capacete e LUVAS! pois já caí... as consequências poderiam ter isso muito más.... agora não arrisco (mota ou bicla)

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  17. Eu acho que devia ser obrigatório usarmos todos uma máscara anti-poluição, esse perigo invisível e constante que mata e enferma toda as pessoas que vivem próximo duma estrada com algum tráfego...

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  18. Eu acho que devia ser obrigatório usarmos todos uma máscara anti-poluição, esse perigo invisível e constante que mata e enferma toda as pessoas que vivem próximo duma estrada com algum tráfego...

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  19. Cristóvão, a questão é saber se deve ou não ser obrigatório o uso desse material protector. Deve a lei obrigar ao uso de luvas, casaco e botas? E já agora, porque não também joalheiras e cotoveleiras? Podem aumentar a protecção, mas devem manter-se na livre escolha de cada um. Pela mesma ordem de ideias, os condutores de carros sem airbag de joelhos, deviam usar joelheiras. Era certamente mais seguro.

    Quanto aos estudos, li e reli uns quantos e a conclusão a que cheguei foi que não havia nenhum que fosse determinante para lado nenhum. Nem que aumentava a segurança, nem que diminuía (por efeito da diminuição de ciclistas na estrada). Um dos estudos, citado pelo Guardian: http://www.guardian.co.uk/world/2013/may/15/cycling-helmet-law-bmj-study-hospitals, que conclui não ser possível atribuir à obrigatoriedade do uso do capacete o motivo da descida na lesões na cabeça dos ciclistas. Outro estudo: http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1368064, que aponta no mesmo sentido.

    Ora se não há estudos que permitam concluir que a obrigatoriedade do uso do capacete conduz determinantemente a menos lesões, em comparação com outras medidas (redução da velocidade geral, melhores infra-estruturas e educação de condutores), não há motivo racional para o impor. Para mais, quando tal não se revela necessário nos países em que a bicicleta é mais usada (Holanda, por ex.). A minha sensibilidade diz-me que essa imposição levaria à diminuição do uso da bicicleta, porque há muitas pessoas que a rejeitariam se tivessem que usar o capacete. Mas é mais benéfico socialmente que elas usem a bicicleta, por conta dos impactos externos dessa acção, do que andem de carro ou não façam exercício físico.

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