quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Pessoas não contam?




Janette Sadik-Khan,  Comissária dos Transportes de Nova Iorque
Esquire, 2010
Tradução livre, da minha autoria.

Um dos problemas das intervenções rodoviárias na cidade de Lisboa é a diminuta relevância dada a quem circula nela a pé. Sabemos quantos automóveis entram e saem da cidade ou nesta e naquela avenida, todos os dias. Mas sabemos quantas pessoas passam a pé na Avenida da Liberdade? Quantas saem do Metro do Marquês? Quantas atravessam as passadeiras do Rossio? Quanto tempo demoram a fazê-lo? Qual a média de pessoas/dia no Jardim do Campo Grande?

Se a estatística dos movimentos de pessoas não é considerada nas decisões, como podem elas identificar e resolver verdadeiramente os problemas? Aliás, sem esse estudo, nem nunca chega a existir qualquer problema.

A grande maioria dos estudos nas cidades incide sobre o Tráfego automóvel, o que é sinal de que ainda não se percebeu que o paradigma mudou e que a nossa atenção não deve incidir sobre os automóveis, mas sobre o movimento das pessoas sem os mesmos. As notícias falam sempre em "milhões" quando se referem aos passageiros de transportes públicos, mas depois parece que a existência destas pessoas deixa de ser considerada, mal saem deles.

Ainda recentemente, ocorreu uma alteração drástica no Marquês de Pombal. Nessa intervenção, corrigiram-se finalmente erros crassos, como ser impossível atravessar a via pelo trajecto mais óbvio e curto, sendo obrigatório dar uma volta enorme, cheia de semáforos. Mas ainda assim, toda a estatística e toda a relevância noticiosa foi para o fluxo automóvel. Há agora todo o tipo de debate sobre quanto tempo se demora a passar na nova rotunda de carro, táxi e autocarro, mas nenhum sobre a perspectiva das pessoas a pé. Se o tempo de atravessamento automóvel tiver piorado um pouco mas o tempo pedonal tiver melhorado substancialmente, a intervenção pode ser considerada um sucesso.

Recomendo a leitura do artigo acima, com pontos muito interessantes, como a indicação de que quando uma praça é fechada ao trânsito ou este é severamente restringido e a área pedonal de qualidade aumenta, as pessoas rapidamente a ocupam e o comércio floresce nela.

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