quarta-feira, 23 de outubro de 2013

São As Infra-estruturas, Estúpido!

A minha última passagem por Nova Iorque foi há uns oito anos atrás. Na altura, quanto a bicicletas, praticamente só se viam Bike Messengers na estrada, ou então pessoas a passear recreacionalmente no Central Park.

Hoje, via treehuger, o panorama é radicalmente diferente:





"Ah, mas Nova Iorque é plano!", dirão os cépticos. Pois é. Mas é muito quente no verão - A humidade é de tal ordem (98%) que basta sair à rua para ficar com a roupa colada ao corpo, mesmo sem nos mexermos. Depois, é um gelo no inverno - 10º abaixo de zero e neve. Condições excelentes, não? Mas e quando o tempo não é nem de calor absurdo nem de gelo absoluto, o que acontece é o que se vê nas imagens.

E por cá?

Por vezes também suo ao chegar de bicicleta ao meu trabalho. Mas é o equivalente a meramente sair à rua por 3 minutos no tal calor nova iorquino. E também porque acelero na subida de 50 metros final (culpa da adrenalina), porque em condições normais não há problema.

A grande diferença entre cá e lá está na aposta visível e determinada nas infra-estruturas que foram planeadas e executadas, política essa de que já tinha dado nota aqui há tempos e é a prova de que as políticas que favorecem os meios de transporte suaves são o elemento preponderante no aumento da utilização destes. Só estas atraem as pessoas que não estão dispostas, por várias razões, a misturar-se com o trânsito de uma cidade para salvar-se a si, os seus filhos e o planeta. E provavelmente, são a maioria.

Portanto, se queremos meios suaves nas nossas cidades, com consequente menor poluição (a poluição faz aumentar incidências de certos cancros), mais espaço para todos, mais silêncio (sim, há ruído a mais e ele mata) e menos custos para o bolso de cada um e para o país (nós importamos petróleo e portanto de cada vez que utilizamos os seus derivados estamos a mandar dinheiro para fora do país), temos que accionar políticas com esse objectivo.

De que é que os nossos governantes estão à espera?

António Costa?

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Difícil é Parar

Mas porque é que esta fotografia não é de uma bicicleta na cidade? Simples: Eu não tiro fotografias (que fiquem esteticamente bem) enquanto em andamento no meio do trânsito. É, digamos... perigoso.


Começar a pedalar nas cidades é fácil. As barreiras a vencer são sobretudo psicológicas e estão relacionadas com hábitos instalados numa sociedade que se habituou a ver no automóvel a resposta mais fácil para ir ao café a 2 km de distância. Qual é então a melhor táctica para começar?


Vencer o medo

Actress-fear-and-panic
Esta é uma expressão de "medo". Quando me dizem que não andam de bicicleta na cidade porque têm "medo", só aceito se fizerem ao mesmo tempo esta expressão.

Ter medo é natural. Toda a gente tem medo do que nunca fez. Como quando deu o primeiro beijo (pronto, aqui talvez tenha sido só eu), entrou na universidade, começou o seu primeiro emprego ou até quando aprendeu a... andar de bicicleta! Parecia tão difícil não cair, não parecia? "Como é que me aguento só em duas rodas?", pensávamos. Hoje, nem pensamos. Como nos beijos.

Portanto, toca a levantar esse rabo preguiçoso do sofá e a experimentar dar uma inocente pedalada. Talvez descubram que é mais difícil decidir parar do que que decidir começar.


Ir acompanhado

Para quem não está habituado a andar de bicicleta na cidade, ter companhia com alguma experiência é aconselhável. Se não conhecem alguém experiente podem sempre contactar um Bike Buddy da MUBi, se existir um na área de residência, que poderá acompanhar-vos no percurso que pretendem, dando conselhos de segurança e eficiência. Se nenhumas destas hipóteses for possível, que se lixe: se estivermos à espera de companhia para adicionarmos algo de bom à nossa vida, na maioria das vezes, bem que podemos esperar sentados. Mudemo-nos a nós próprios e os outros que nos sigam.

(vou parar agora com frases auto-motivacionais, antes que este blog caia num precipício obscuro de psicologia de mesa-de-cabeceira do qual dificilmente sairá)


Começar de-va-gar

Deve começar-se por pequenos percursos, para ir até ao tal café, esplanada, jardim, comprar o jornal ou um pequeno passeio de fim-de-semana. Ou então aproveitar uma ciclovia perto de casa para dar uma volta. Sem horários a cumprir, sem stress e com tempo.

Há quem faça uma tirada de 10 quilómetros, na primeira tentativa, o que pode ser um erro para quem não pedala há anos e não tem experiência de andar no meio do trânsito automóvel. Um pouco como ter a ideia de começar a correr, depois de anos de ócio, e começar logo pela meia-maratona. Estão a ver o resultado, não estão?

Portanto, numa primeira tentativa, escolham um percurso simples e fácil, com poucas subidas.


Equipamento

Para começar a pedalar na cidade, não é preciso ter um iPhone, uma Schwinn cheia de pinta, nem mesmo um capacete (que só usa quem quer e eu só o usava quando andava de BTT pelo meio de trilhos cheios de pedras, buracos e árvores a 50km/h ou mais - quando era, portanto, um radical).

Esclareço que para além da ideia de protecção, podem optar por usar um capacete com outra intenção:

(Por que razão o capacete está a proteger apenas a metade posterior da cabeça, deixando a metade frontal a descoberto? Leia abaixo para uma explicação mais que razoável)

Se repararem, ao contrário da maioria das pessoas, esta ciclista urbana não deve gostar de ter o cabelo ao vento e portanto decidiu encafuá-lo protegê-lo dentro de um recipiente a que outros estranhamente chamam capacete. Ou então, faz parte de um processo de penteado moderno, e o capacete recipiente não passa de uma forma (ler fôrma) e quando ela o tirar, vamos ver isto:



  (eu não julgo ninguém)

Ora aqui está uma razão convincente para passar a usar capacete. Quem não gostaria de ter um cão na cabeça, para protecção? É caso para dizer: "Que bonito cãobelo tu tens!" BÉU, BÉU!!


Circular no passeio

Que as primeiras pedaladas sejam no passeio é tão certo como um ciclista estreante se perder na ciclovia da zona ribeirinha de Lisboa (Cais do Sodré - Belém). Aliás, se a estreia for na ciclovia da zona ribeirinha, parte do percurso é no passeio, portanto faz logo um dois-em-um. Vezes dois. E dois-em-um vezes dois, porque vão descobrir que esta ciclovia não liga com mais ciclovia nenhuma que dê a volta ao ponto de início (ou qualquer outra volta), portanto têm que regressar pelo mesmo caminho em que vieram e perder-se novamente em sentido inverso.


Mas é habitual que pessoas inexperientes comecem por andar nos passeios, com receio dos automóveis na estrada. Eu também já o fiz, em zonas onde o passeio é muito largo e praticamente não há peões, quem sou eu para recriminar? MAS, nunca esquecer que, em todo e  qualquer caso, no passeio o peão é rei e senhor. Circular no passeio de bicicleta é proibido, por mais que certos condutores e até alguns polícias vos encaminhem para lá (sim, sei de várias histórias em que o polícias mandaram ciclistas para o passeio).

Por favor nada de razias, sustos, velocidades elevadas ou confrontações junto de peões. O peão tem SEMPRE prioridade e devemos acautelar SEMPRE a sua segurança. Se houver crianças, prever que são imprevisíveis e antecipar que podem mudar de direcção a qualquer momento. Um dos mandamentos do ciclista deve ser não fazer aos peões no passeio (e na estrada também) o que não querem que os automóveis vos façam na estrada. E a estrada é a via indicada para a bicicleta, enquanto que no passeio ela está em permanente violação da lei. Combinado?

E então, do que é que estão à espera para agarrarem aquela pasteleira/BTT/bicicleta de corrida há tanto tempo parada na arrecadação e irem dar uma volta?

(Eu ia pôr aqui uma fotografia parva com um comentário idiota como os de cima, para acabar o post mas depois decidi não o fazer. Entretanto enganei-me e publiquei mesmo com o início desta frase, pelo que agora fica aqui este apontamento ainda mais idiota.)